sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Falar com bebês?


O bebê recém-nascido se acalma ao ouvir a voz materna, ao sentir o cheiro da mãe, ao ser acolhido num colo quentinho, onde reconhece, com vários traços de diferença, um lugar familiar: O CORPO DA MÃE que se confunde com o próprio corpo. A visão neste momento, ainda funciona muito pouco.
Falar com o bebê desde a vida intra-útero (como afirmam várias pesquisas no campo das psiquês: psicanálise, psicologia, psiquiatria) pode ser muito benéfico para o par mãe/bebê.
Evidente que o bebê não reconhece palavras. Não entende como nós adultos entendemos. Mas escuta a MELODIA da voz que está ligada a um ritimo cardíaco (materno), a sensações prazerosa/desprazerosa ele (re)conhece, pois já teve por repetidas vezes essa experiência intra-utero.
Estas experiências vividas de modo repetitivo vão criando marcas. Criando textos. Fazendo sentido.
As experiências corporais, sinestésicas (audição, tato, olfato, paladar e visão) são as primeiras experiências que o bebê vive. E as  ligando a situações prazerosas e desprazerosas.
Assim, quando o bebê estiver gritando de cólicas, por exemplo, e a mãe aflita acolher numa tentativa frustrada, é compreensível.
Todos (mãe/bebê) estão vivendo uma situação de stress, de desprazer. Assim, não haverá colo, voz materna, que irão acalmar o bebê. Ele percebe o stress e por isso não se sente acolhido, não parando de chorar para desespero materno.
Mais um exemplo disso: nessa situação o bebê ser acolhido por um colo de alguém que esteja tranquilo, causa relaxamento no bebê.
Qual a solução então: que a mãe faça coisas que a tranquilize (beber água, respirar, tomar um banho... enfim cada uma deve descobrir uma estratégia), e só então acolher seu bebê com segurança.
E assim é a vida toda, né?
Os filhos sabem reconhecer quando as mães passam tranquilidade e segurança para eles pela fala, e quando não.
Sentido este que não é garantido pela palavra em si, mas pelo o que está embutido nela: a melodia.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Ah!... a CHUPETA... Quando retirá-la?

Ah! a CHUPETA...
Quando deve ser retirada a chupeta?
Antes de responder a esta pergunta, penso que devemos formular outra: “o que leva ao uso da chupeta?”.
O uso da chupeta é muito antigo. Há estudos que apontam para o uso de objetos para o bebê sugar e acalmá-lo desde a Idade Média (sec. XV). Eram feitas, pelas descrições, bolinhas de tecido amarradas junto às vestes ou ao berço do bebê, muitas vezes, contendo dentro dela objetos adocicados, para sossegar os pequenos.
Antes mesmo disso, há escavações feitas em tumbas de bebês (há 3000 anos), aonde foram encontrados objetos em formas de bichos com um orifício onde eram introduzidos alimentos doces, como mel.
Portanto há uma transmissibilidade cultural mais arraigada em nós, do que supomos, a repeito de nosso hábitos contemporâneos. Verdade que, essa bolinha foi se sofisticando de acordo inclusive com a segurança do uso: para evitar engasgos, asfixias, contaminação em função da dificuldade de higienização; chegando aos dias atuais com os modelos mais modernos que são as ortodônticas, de silicone, BPA free.
Tão antiga quanto essa cultura é a polêmica e controvérsias envolvendo seu uso.
Os bebês sugam por: - reflexo vital (manutenção da sobrevivência);
                                          - pelo prazer ligada a esta prática, formando uma tríade: em um primeiro momentos a sucção está ligada com a saciedade da fome, ao contato com outro (a mãe), a ligação afetiva.
A sucção da chupeta é chamada de sucção não nutritiva.
Diversas áreas (Fonoaudiologia, Pediatria, Odontologia, Psicologia)e em diferentes abordagens profissionais apontam pontos prós e contra o uso e o momento da retirada.Destaco alguns deles:
- sendo inato o a necessidade de sugar, quando se oferece a chupeta ao invés do seio materno, diminui o que a Pediatria denomina de “livre demanda”. Ou seja, o bebê mama menos e consequentemente a mãe produz menos leite (já que o leite é produzido, sobretudo, pela estimulação). Ou seja, quando se oferece a chupeta, estudos apontam que o desmame do seio materno ocorre antes, do que, comparativamente, com crianças que não usaram chupeta.
- quando não se oferece chupeta e a necessidade de sugar se apresenta intensa, mesmo mamando do seio, há uma grande possibilidade de o bebê sugar do dedo.
- o uso contínuo e continuado da chupeta pode prejudicar o desenvolvimento da fala;
- o uso da chupeta pode causar danos da arcada dentária, e como consequência prejuízos na funções estomatognáticas (mastigação, deglutição, respiração e fala);
- chupeta é usada como um acalentador, um substituto do seio materno;
- muitas vezes concomitante à chupeta usa-se substâncias açucaradas que, comprovadamente, dão relaxamento aos bebês pequenos, diminuindo algumas dores inerentes aos primeiros 3 meses.
- a má higienização da chupeta pode causar infecções intestinais, e outras doenças como cáries.
- a oferta da chupeta aumenta o limiar de dor dos recém-nascidos, melhora a qualidade do sono e, portanto, aumenta o ganho do peso. O mesmo ocorre nos bebês amamentados durante uma situação de stress (ao invés de usarem a chupeta).
Como o gesto de sugar não está ligado exclusivamente à nutrição, mas há uma memória emocional relacionado ao prazer do contato, temos que ter cautela na orientação da retirada da chupeta.
São conhecidos os males do uso constante da chupeta e por muito tempo.  A recomendação é que em torno dos três anos a criança não faça mais uso da mesma, isso em todas as áreas.
O fato é que, ao longo do tempo, o uso se torne mais restrito. Que a chupeta não esteja de fácil acesso à criança todo o tempo.
É também mais do que sabido que ela ocupa, em grande parte dos casos, uma função intermediadora, de ponte, entre a mãe e a criança, como se de alguma maneira, ela ligasse a criança à mãe, como uma substituta a sua presença.
Pensando em todos esses aspectos, a retirada da chupeta não pode ser uma decisão tomada apenas com base na idade da criança.
Minha sugestão é a de que se observe o contexto geral!
Quanto mais assegurada estiver a rotina da criança, mais segurança ela estará no “desmame” da chupeta.
O contrário também é verdadeiro. Mudanças importantes na rotina da criança como gravidez materna, separações, viagens, nascimento de irmão, falecimento, desfralde, dificultam o “desmame” da chupeta.
Vale a pena bater um papo com seu filho, mesmo que ele seja pequeno, sobre a retirada da chupeta. Avisá-lo. Negociar com ele. Fazer combinados... aliás, esta é uma linguagem que as crianças compreendem muito bem!
E daí... há uma série de conversas, de permutas, de vendas de chupetas das crianças aos pais... histórias boas! Convido quem quiser deixar aqui registrada a sua.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Está na hora de levar meu filho na fono?

Essa é uma pergunta que sempre se apresenta.  A partir de qual idade devo levar meu filho para fono?
A resposta é curta: quando a família estiver na dúvida.
Infelizmente não há receita. Como seria bom se tivesse, né?  É... mais uma vez o importante é observar, estar atento ao desenvolvimento global da criança e então focar nesta pergunta.
Vou contar um caso, especificamente, que atendi no consultório.
João (nome fictício) tinha 5 anos recém completos e os pais relatavam uma troca de fonemas (sons) na fala.
Este dado isoladamente gera a seguinte interpretação: pode-se esperar mais um pouco, afinal a criança está em fase de aquisições de fala e, portanto, cometer  “erros de fala” é  “normal”. Além de ser muito comum a orientação de: “aguarde o final dos 4 anos” (quando se espera que todo o quadro fonêmico esteja instalado) e a criança terá a oportunidade de espontaneamente “falar sem erros”.
Cabe aqui contar uma outra parte da história:
João lia com uma fluência impressionante, escrevia muito bem, desenhava com precisão de detalhes, apresentava coordenação motora fina e movimento de pinça (movimento de prensa para escrever) super bem desenvolvidos. Contava história com começo, meio e fim, com coerência, com lógica.
Por fim, havia uma incompatibilidade entre os desenvolvimentos de ordem motora, de linguagem oral e de linguagem escrita.
O que chama a atenção é: descrever um evento, isoladamente, não significa muita coisa.
 O importante é entendermos o conjunto.
É muito comum eu receber no consultório crianças que tenham não um atraso global do desenvolvimento. Ao contrário, crianças com questões pontuais, que destoam do resto de todas as outras aquisições, havendo um atraso especifico de linguagem que pode ser diagnosticado e trabalhado muito antes da idade prevista para o final das aquisições.
Significa trabalhar e interferir quando as bases de linguagem estão sendo construídas. Não podemos nos esquecer que as crianças são submetidas a iniciação de processos de escrita já aos 4/5 anos.  A aquisição da escrita está assentada sobre uma aquisição anterior, a da fala! Lembrando que o primeiro movimento da escrita é: a transcrição da fala.
IMPORTANTISSIMO DESTACAR:
Levar a criança a uma consulta de fonoaudiologia não significa submetê-la a tratamento. Significa submetê-la a um diagnóstico especializado. Somente, a partir, do diagnostico é que será definido se criança necessita ou não de tratamento.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Dicas da Primeira Papinha

Que pais não tiveram dificuldade ao oferecer a primeira papinha para seus filhos?
 A idade da primeira papinha varia muito, de acordo com a orientação do pediatra. De praxe, quanto mais cedo for o desmame do leite materno, mais cedo será introduzida a papinha.  Às vezes, muito antes da criança ter sustentação de pescoço.
O cardápio, igualmente, pode variar de acordo com a orientação médica, que é fundamental que seja seguida.
Algumas orientações importantes para tornar este momento menos angustiante e cada dia mais prazeroso:

Posição do bebê:
- no mínimo 45 graus. Nunca deitado! (de preferência no carrinho ou no cadeirão);
- Certifique-se de que você e o bebê possam ter contato ocular, e ele possa sentir segurança em seus gestos;

Temperatura da  papinha salgada:
- morna, quase fria;
Quantidade de alimento oferecido:
- Fazer uso de talher adequado a cada idade;
 - A quantidade de alimento oferecido na colher deve ser proporcional à idade de bebê, à cavidade oral, ao controle que ele já tem na região, à maturidade neuro-psico-motora;
- A primeira vez que o bebê ingere a papinha, (tanto de frutas, como salgada) costuma estranhar o alimento: a consistência, textura, temperatura, sabor, além de “não saber o que fazer com o alimento dentro da boca”. Afinal, até então, ele apenas mamava, não mastigava, ou mascava (são tarefas diferentes);
- Ofereça o alimento. Pode acontecer de, nas primeiras vezes que for oferecido, o bebê ingerir  2 ou 3 colheres (normal!). Mas não desista. Aos poucos ele vai apreciando o sabor e aprendendo movimentar a boca de maneira adequada, ingerindo cada vez  quantidades maiores;
- O bebê faz sim (todos fazem) careta ao experimentar algo novo. Trata-se de um reflexo. Cuidado com interpretações equivocadas do tipo: “meu filho não gosta de mamão. Toda vez que come mamão faz careta e chora!”;
Eles estranham, não sabem o que fazer com o alimento na boca, parte engolem, parte cospem, às vezes chegam a fazer ânsia (já esperado!) –isso não significa que ele esteja com “nojo na comida” (como já ouvi repetidas vezes em discursos de pais no consultório. Engano!).
Em outra oportunidade, ofereça novamente. Não desista de oferecer certos alimentos em função dessas primeiras experiências por uma “pseudo” recusa.  Experimente nova consistência.
Claro que eles preferem, entre as frutas, as mais docinhas, então comece por elas (por ex.: banana, maçã, pêra).
Quando maiores, ofereça o alimento na mão deles e prepare a máquina fotográfica! Diversão garantida com pedaços de manga (bem docinho), melancia...
- importante: oferecer o alimento em momento tranqüilo (inclusive para quem oferece!);
 - Encontre um bom horário na rotina da criança para a oferta, que não coincida, por exemplo, com o horário do sono e não seja seguido ao horário do leite. Ou seja, a criança deve estar com apetite e disposta para essa empreitada.
- as primeiras papinhas podem ser pastosas, bem amassadinhas, com tudo muito bem cozido. O bebê, num primeiro momento (de acordo com a maturidade neurológica e com a idade) passa de sugar a mascar os alimentos.
- é fundamental que, ao perceber que a criança está muito bem nesta “fase”, vá se engrossando este alimento, tornando uma refeição solida (arroz, feijão, saladinha, carne, legumes, por ex., tal como ingerimos), e nesta medida vai exigir que mastigue, ao invés de mascar.
P.S.: é possível sim mastigar sem dentes. O bebê mastiga esmagando os alimentos, mas não consegue triturar por exemplo pedaços de alimento muito fibroso, resistente (como um pedaço de churrasco, por ex.) , que não se desfaça  com facilidade.
Mastigar cansa (verdade!). E nesta medida, as crianças, em muitos casos, passam a ingerir uma quantidade um pouco menor do que ingeriam antes (quando o alimento era pastoso, como sopinha), o que pode gerar preocupações para pais.
 Sugiro que haja alternância entre as refeições (pastosas e sólidas), de modo que todos (pais e bebês) sintam-se seguros e confortáveis.
A meta é que ao completar um ano, a criança tenha condições de ingerir em todas as refeições alimentos sólidos e esteja fazendo uso de copos (com bico).
Entendo que muitos ainda façam uso de mamadeiras e chupetas, que não sou contra! Mas que o uso seja cada vez mais reduzido e que revezem entre os bicos da mamadeira e do copo- sem válvula anti vazamento( hein?!). Assim, toda a estrutura da região oral torna-se apta para a próxima grande aquisição por esta região: a fala!

quinta-feira, 1 de março de 2012

Falar, alimentar, respirar: o começo

Já parou um instante para pensar quanta coisa acontece na boca?
A resposta será positiva se você já teve algum incômodo nela. Exemplifico: sabe onde é exatamente o estômago quem teve gastrite, ou onde está localizado a apêndice quem teve apendicite. Ou seja, os órgãos recebem sentido quando saem do “silêncio”.
Três aparelhos passam pela boca: fonador, respiratório e digestivo. Ela exerce concomitantemente múltiplas funções e, portanto, repleta de sentidos.
Por ela acontece o gesto que inaugura a relação com o outro: a amamentação, onde afeto e leite se misturam, num gesto de alimentar o corpo e a “alma”.  
Portanto: entender distúrbios que possam ocorrem neste órgão é entender a multiplicidade de funcionamentos que incidem sobre ela, nesta “engrenagem” que recebe alimentos, ar e devolve palavra.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Gagueira

A gagueira é um distúrbio de linguagem caracterizada por prolongamentos, pausas, hesitações e repetições na produção de fonemas(de sons da fala) ou sílabas.
Na verdade, essas características também fazem parte de uma fala comum sem alterações.


É isso mesmo! Todos nós, quando falamos, produzimos entre outros “errinhos” na produção da fala esses. Porém, o que diferencia um falante fluente de um disfluente é a insistência destes episódios na fala cotidiana.


Nas pessoas ditas “fluentes” esses acontecimentos normalmente são decorrentes de uma situação estressante. Em momentos estanques, ocorrendo eventualmente.
Já no sujeito com gagueira esses episódios são constantes, o que prejudica a fala cotidiana, e como consequência,em grande parte dos casos, a vida social, as relações interpessoais em todos os níveis(amizades, namoro, trabalho).


Qual a causa da gagueira?
Há muitos estudos e cada um aponta para uma direção. Há linhas que reforçam a idéia de um componente genético, outras para um problema de origem neurológica, e outras ainda para questões fundamentalmente relacional entre o sujeito e a língua (que a gagueira, assim como os outras questões de linguagem é uma construção intersubjetiva, que se dá na triangulação entre sujeito, a língua e o outro). E nesta última concepção que eu trabalho.


Então, gagueira tem tratamento?
Sim. Cada linha propõem tratamento de acordo com os seus pressuposto. O que penso que deva ficar claro é: deixar de produzir hesitações, pausas, prolongamentos e repetições é impossível, já que essas características são inerentes a uma fala dita “normal”. Portanto deixá-las de produzir seria sobre-humano.
A idéia é que o sujeito as produza de modo que não o incomode mais na sua vida cotidiana.