quinta-feira, 15 de março de 2012

Está na hora de levar meu filho na fono?

Essa é uma pergunta que sempre se apresenta.  A partir de qual idade devo levar meu filho para fono?
A resposta é curta: quando a família estiver na dúvida.
Infelizmente não há receita. Como seria bom se tivesse, né?  É... mais uma vez o importante é observar, estar atento ao desenvolvimento global da criança e então focar nesta pergunta.
Vou contar um caso, especificamente, que atendi no consultório.
João (nome fictício) tinha 5 anos recém completos e os pais relatavam uma troca de fonemas (sons) na fala.
Este dado isoladamente gera a seguinte interpretação: pode-se esperar mais um pouco, afinal a criança está em fase de aquisições de fala e, portanto, cometer  “erros de fala” é  “normal”. Além de ser muito comum a orientação de: “aguarde o final dos 4 anos” (quando se espera que todo o quadro fonêmico esteja instalado) e a criança terá a oportunidade de espontaneamente “falar sem erros”.
Cabe aqui contar uma outra parte da história:
João lia com uma fluência impressionante, escrevia muito bem, desenhava com precisão de detalhes, apresentava coordenação motora fina e movimento de pinça (movimento de prensa para escrever) super bem desenvolvidos. Contava história com começo, meio e fim, com coerência, com lógica.
Por fim, havia uma incompatibilidade entre os desenvolvimentos de ordem motora, de linguagem oral e de linguagem escrita.
O que chama a atenção é: descrever um evento, isoladamente, não significa muita coisa.
 O importante é entendermos o conjunto.
É muito comum eu receber no consultório crianças que tenham não um atraso global do desenvolvimento. Ao contrário, crianças com questões pontuais, que destoam do resto de todas as outras aquisições, havendo um atraso especifico de linguagem que pode ser diagnosticado e trabalhado muito antes da idade prevista para o final das aquisições.
Significa trabalhar e interferir quando as bases de linguagem estão sendo construídas. Não podemos nos esquecer que as crianças são submetidas a iniciação de processos de escrita já aos 4/5 anos.  A aquisição da escrita está assentada sobre uma aquisição anterior, a da fala! Lembrando que o primeiro movimento da escrita é: a transcrição da fala.
IMPORTANTISSIMO DESTACAR:
Levar a criança a uma consulta de fonoaudiologia não significa submetê-la a tratamento. Significa submetê-la a um diagnóstico especializado. Somente, a partir, do diagnostico é que será definido se criança necessita ou não de tratamento.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Dicas da Primeira Papinha

Que pais não tiveram dificuldade ao oferecer a primeira papinha para seus filhos?
 A idade da primeira papinha varia muito, de acordo com a orientação do pediatra. De praxe, quanto mais cedo for o desmame do leite materno, mais cedo será introduzida a papinha.  Às vezes, muito antes da criança ter sustentação de pescoço.
O cardápio, igualmente, pode variar de acordo com a orientação médica, que é fundamental que seja seguida.
Algumas orientações importantes para tornar este momento menos angustiante e cada dia mais prazeroso:

Posição do bebê:
- no mínimo 45 graus. Nunca deitado! (de preferência no carrinho ou no cadeirão);
- Certifique-se de que você e o bebê possam ter contato ocular, e ele possa sentir segurança em seus gestos;

Temperatura da  papinha salgada:
- morna, quase fria;
Quantidade de alimento oferecido:
- Fazer uso de talher adequado a cada idade;
 - A quantidade de alimento oferecido na colher deve ser proporcional à idade de bebê, à cavidade oral, ao controle que ele já tem na região, à maturidade neuro-psico-motora;
- A primeira vez que o bebê ingere a papinha, (tanto de frutas, como salgada) costuma estranhar o alimento: a consistência, textura, temperatura, sabor, além de “não saber o que fazer com o alimento dentro da boca”. Afinal, até então, ele apenas mamava, não mastigava, ou mascava (são tarefas diferentes);
- Ofereça o alimento. Pode acontecer de, nas primeiras vezes que for oferecido, o bebê ingerir  2 ou 3 colheres (normal!). Mas não desista. Aos poucos ele vai apreciando o sabor e aprendendo movimentar a boca de maneira adequada, ingerindo cada vez  quantidades maiores;
- O bebê faz sim (todos fazem) careta ao experimentar algo novo. Trata-se de um reflexo. Cuidado com interpretações equivocadas do tipo: “meu filho não gosta de mamão. Toda vez que come mamão faz careta e chora!”;
Eles estranham, não sabem o que fazer com o alimento na boca, parte engolem, parte cospem, às vezes chegam a fazer ânsia (já esperado!) –isso não significa que ele esteja com “nojo na comida” (como já ouvi repetidas vezes em discursos de pais no consultório. Engano!).
Em outra oportunidade, ofereça novamente. Não desista de oferecer certos alimentos em função dessas primeiras experiências por uma “pseudo” recusa.  Experimente nova consistência.
Claro que eles preferem, entre as frutas, as mais docinhas, então comece por elas (por ex.: banana, maçã, pêra).
Quando maiores, ofereça o alimento na mão deles e prepare a máquina fotográfica! Diversão garantida com pedaços de manga (bem docinho), melancia...
- importante: oferecer o alimento em momento tranqüilo (inclusive para quem oferece!);
 - Encontre um bom horário na rotina da criança para a oferta, que não coincida, por exemplo, com o horário do sono e não seja seguido ao horário do leite. Ou seja, a criança deve estar com apetite e disposta para essa empreitada.
- as primeiras papinhas podem ser pastosas, bem amassadinhas, com tudo muito bem cozido. O bebê, num primeiro momento (de acordo com a maturidade neurológica e com a idade) passa de sugar a mascar os alimentos.
- é fundamental que, ao perceber que a criança está muito bem nesta “fase”, vá se engrossando este alimento, tornando uma refeição solida (arroz, feijão, saladinha, carne, legumes, por ex., tal como ingerimos), e nesta medida vai exigir que mastigue, ao invés de mascar.
P.S.: é possível sim mastigar sem dentes. O bebê mastiga esmagando os alimentos, mas não consegue triturar por exemplo pedaços de alimento muito fibroso, resistente (como um pedaço de churrasco, por ex.) , que não se desfaça  com facilidade.
Mastigar cansa (verdade!). E nesta medida, as crianças, em muitos casos, passam a ingerir uma quantidade um pouco menor do que ingeriam antes (quando o alimento era pastoso, como sopinha), o que pode gerar preocupações para pais.
 Sugiro que haja alternância entre as refeições (pastosas e sólidas), de modo que todos (pais e bebês) sintam-se seguros e confortáveis.
A meta é que ao completar um ano, a criança tenha condições de ingerir em todas as refeições alimentos sólidos e esteja fazendo uso de copos (com bico).
Entendo que muitos ainda façam uso de mamadeiras e chupetas, que não sou contra! Mas que o uso seja cada vez mais reduzido e que revezem entre os bicos da mamadeira e do copo- sem válvula anti vazamento( hein?!). Assim, toda a estrutura da região oral torna-se apta para a próxima grande aquisição por esta região: a fala!

quinta-feira, 1 de março de 2012

Falar, alimentar, respirar: o começo

Já parou um instante para pensar quanta coisa acontece na boca?
A resposta será positiva se você já teve algum incômodo nela. Exemplifico: sabe onde é exatamente o estômago quem teve gastrite, ou onde está localizado a apêndice quem teve apendicite. Ou seja, os órgãos recebem sentido quando saem do “silêncio”.
Três aparelhos passam pela boca: fonador, respiratório e digestivo. Ela exerce concomitantemente múltiplas funções e, portanto, repleta de sentidos.
Por ela acontece o gesto que inaugura a relação com o outro: a amamentação, onde afeto e leite se misturam, num gesto de alimentar o corpo e a “alma”.  
Portanto: entender distúrbios que possam ocorrem neste órgão é entender a multiplicidade de funcionamentos que incidem sobre ela, nesta “engrenagem” que recebe alimentos, ar e devolve palavra.